Jose Aravena Reyes

12/03/2009
Entrevistas
Jose Aravena Reyes Jose Aravena Reyes

Jose Aravena Reyes é graduado em Engenharia Naval pela Universidad Austral de Chile. Concluiu mestrado e doutorado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) na área de sistemas do programa de Engenharia Oceânica. É professor da UFJF desde 1998, vice-coordenador geral do NEAD e líder do Núcleo de Estudos e Projetos em Educação Tecnológica.

 

NEAD – Qual o objetivo da pós-graduação em Tecnologias de Informação e Comunicação no Ensino Fundamental (TICs)?
Aravena – O principal objetivo do curso é preparar os professores das escolas para a apropriação das tecnologias e para a utilização destas tecnologias na rede do ensino fundamental. Com isso, os professores devem se tornar agentes de mudanças dentro da escola.


NEAD – Então ser professor é um pré requisito para ingressar nesta pós-graduação?
Aravena Esta é uma das qualificações exigidas. Além disso, é feita uma análise baseada na experiência profissional do professor, que deve, obrigatoriamente, trabalhar na rede pública.


NEAD – Qual a importância do emprego das novas tecnologias na educação?
Aravena Atualmente o processo de cognição sofreu alterações e as tecnologias auxiliam continuamente nestas mudanças, tornando a aprendizagem mais fácil. Por outro, lado há uma questão circunstancial, o Governo Federal tem o projeto de oferecer computadores e internet para todas as escolas, por isso, as tecnologias serão utilizadas amplamente, não só no processo de ensino e aprendizagem mas também na distribuição de atividades rotineiras. Na medida em que os professores se apropriam disto eles se tornam capazes de suprir esta demanda que o governo deseja.


NEAD – Este é ainda um projeto do governo ou já esta sendo implantado?
Aravena É um processo em andamento, mas sabemos que a escola sempre foi prejudicada pelo contexto. Existe uma diferença entre aquilo que nós pensamos sobre educação e o que realmente acontece. Por exemplo: quando houve uma iniciativa grande do governo em colocar vídeo cassete, televisão e antenas nas escolas, para trabalhos com vídeo, tecnologicamente o problema estava solucionado, mas não pedagogicamente. Muitas vezes os professores não sabiam usar ou a própria cultura da escola não permitia. Os equipamentos ficavam trancados porque os responsáveis tinham medo da deteriorização dos mesmos.

O que queremos hoje é que os professores estejam capacitados e possam dar um salto qualitativo na utilização de ferramentas tecnológicas. Estamos vivenciando uma tradição de investimento no ensino fundamental e acreditamos que a especialização do professor será o diferencial no processo
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NEAD – A proposta do curso, então, é qualificar os professores para o emprego e utilização das novas mídias nas escolas?
AravenaEste é um dos aspectos que fundamenta o projeto político pedagógico do curso. A proposta é bem mais ampla, ela é contextualizada, consideramos importante analisar o que está acontecendo nas escolas e quais as atividades da escola.



NEAD – Você acredita que o uso destas novas tecnologias no ensino fundamental é uma forma de inserção social?
AravenaSim, sem dúvida. Mas também não há uma perspectiva romântica nisso. Há um interesse de que isso se materialize, entretanto a realidade muitas vezes é completamente diferente, não cumpre com as condições mínimas para que exista de fato a inclusão.

A inclusão não é somente tecnológica mas também social, a medida que as pessoas d
o interior, sem acesso ao sistema de ensino superior público, passam a tê-lo com a educação a distância. O que ocorre é uma valorização da vida no interior, do trabalho local capaz de resgatar o conhecimento tradicional e promover o desenvolvimento local das comunidades. Tudo isso acaba trazendo as pessoas para o que chamamos hoje de um mundo globalizado
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NEAD – Existe algum projeto social em desenvolvimento nos polos em prol desta inserção?
Aravena Temos vários projetos, tanto consolidados como em fase de prospecção. No último verão, em janeiro, nós exigimos que os tutores que trabalham nos polos desenvolvessem projetos de apoio a comunidade. Tivemos oficinas de cinema, cine clubes, algumas propostas de cursinhos para as escolas foram resgatadas e o que estamos desenvolvendo agora é o intercambio de cultura entre os polos e a Universidade. O que queremos é que eles possam usar outros espaços da vida universitária, caracterizada pela transdisciplinaridade e acesso à expressão artística, cultural, política e social de uma instituição como a nossa.


NEAD – Você acredita que os alunos formados neste curso à distancia tenham um diferencial por já estudarem fazendo uso destas tecnologias?
Aravena Com o curso os profissionais resgatam espaço no mercado. Os alunos tem sim um diferencial, que não pode ser visto puramente em termos profissionais ou de empregabilidade, ele se traduz numa vida múltipla: a vida na internet com a possibilidade de estar no global sem sair do local e transmitir aspectos culturais deste local para o global.

Existe um diferencial significativo para o aluno que se especializa a distância, ele adquire a auto disciplina, a capacidade de se organizar e do aprender a aprender. Na educação a distância o aluno acaba tendo uma grande responsabilidade no desenvolvimento do curso, criando condições de dar continuidade de forma autônoma e independente. No presencial, isto não é explorado, o curso é desenvolvido mais na fala dos professores e não na dedicação do aluno que consiste a prática concreta do processo educacional
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NEAD – Como o mercado de trabalho receberá esses profissionais?
Aravena Nosso interesse maior é reforçar o trabalho dos professores nas escolas. Certamente que isto representará um ganho, a especialização já traz um diferencial em termos de salário. A experiência vivenciada fará com que esses professores atuem em outras áreas e espaços do mercado das universidades privadas e setores privados da economia.


NEAD – Existe uma previsão para um novo edital deste curso?
AravenaEste ano, talvez em julho, já estaremos lançando um novo edital com uma quantidade de vagas similar ou maior, do que o número de alunos que temos hoje, que somam cerca de 200. Temos grande interesse em consolidar esta pós graduação, melhorar sua estrutura e desenvolvimento e torná-la o mais acessível possível à comunidade.