Jardim Sensorial da UFJF recebe alunos do aperfeiçoamento em Culturas e História dos povos indígenas

21/10/2013

Enquanto um grupo de pessoas observa, tateia e sente o cheiro de diversas espécies de plantas do Jardim Sensorial da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), o índio Ailton Krenak (foto ao lado) percorre o espaço balançando sua maraca. Em sua língua, ele entoa cantos abençoando o local que serviu para abrigar os alunos do curso de aperfeiaçomento em Culturas e História dos Povos Indígenas (foto abaixo), o qual teve a aula inaugural no último sábado, 19. Antes, ainda no anfiteatro da Faculdade de Engenharia, ele convidou os cursistas a uma experiência, nesse primeiro momento do curso, “mais afetiva e menos cerebral”. Considerado um dos principais líderes indígenas do Brasil, Krenak foi o convidado especial da aula inaugural.

 

“Gostaria de dar as boas-vindas aos colegas que vieram dos polos, parceiros nesta viagem que estamos começando em que teremos experiências de verdade, a despeito de estarmos utilizando tecnologias que nos permitem conversar a distância (…). Hoje, vamos acolher nossos colegas nesse espaço que é o Jardim Sensorial”, disse o índio da etnia crenaque, que também é jornalista, produtor gráfico e fundador da Organização Não Governamental (ONG) Núcleo de Cultura Indígena (NCI).

 

De acordo com o diretor do Centro de Educação a Distância (Cead) da UFJF, Flávio Takakura, o curso de Culturas e Histórias dos Povos Indígenas assume função estratégica. “Hoje em dia, os nossos professores, quando vão ensinar a História do Brasil, não se aprofundam na hora de falar da cultura e história dos índios. Esse curso tem o objetivo de capacitar os nossos professores para que eles tenham esse conhecimento e possam passar para os alunos, que são o futuro do nosso país”, pondera Takakura, momentos antes de dar as boas vindas a todos na abertura da aula inaugural.

 

Em sua fala, o coordenador-geral do Cead, José Aravena, destacou as dificuldades enfrentadas para se conseguir oferecer o aperfeiçoamento. Relatou aos cursistas como foi a capacitação para professores e tutores ocorrida nos dois dias que antecederam a aula inaugural. Ele destacou também que os alunos conheceriam, ao longo da especialização, um novo sistema de valores. Segundo ele, todos os esforços feitos foram no sentido de se levar para dentro das escola uma nova abordagem da temática: “Estamos propondo mudanças na escola e devemos estar impregnados dessa transformação.”

 

Sobre o fato de iniciarem um curso na modalidade à distância, Aravena citou um sentimento para exemplificar que o aprendizado não presencial é possível. “Estamos sempre promovendo, junto aos polos, as novas tecnologias e as nossas formas de trabalho, que vão exigir de vocês também uma nova forma de se relacionar, já que não é necessário estar frente a frente. As transformações podem ser vivenciadas de longe assim como o afeto também se vivencia de longe. A saudade é o grande exemplo da não presença. Cada vez que sentimos saudade, estamos experimentando um sentimento que se sente a distância. Esperamos que os aspectos dessa relação virtual depois sejam convertidos para dentro das escolas”, expõe.

 

De acordo com o coordenador da pós-graduação, Leonardo Carneiro, os índios travaram uma luta sangrenta para que políticas sociais fossem implementadas pelo Estado. “História de lutas, mas também de beleza, de resistência, e que emociona a todos”, disse, visivelmente emocionado, para depois ressaltar que, finalmente, o momento de ver o curso sair do papel tinha chegado, fruto do esforço de muitas pessoas.

Expectativas comuns

 

Lucélia Monteiro, Luciene Pereira e Andresa de Lima estão entre os alunos matriculados no aperfeiçoamento. Todas são unânimes ao afirmar que, atualmente, as temáticas indígenas não são suficientemente abordadas dentro das escolas. Moradora de Santana do Deserto e professora de Sociologia, Lucélia fez a inscrição para o polo de Conselheiro Lafaiete em busca de enriquecer os seus conhecimentos.

 

“Sou professora do ensino médio e é muito difícil falar dos povos indígenas porque as pessoas sempre acham que é algo muito distante, que não existem povos indígenas perto da gente. Os alunos acabam achando que não tem a ver com a realidade deles. Acredito que os povos indígenas têm muito a contribuir, a acrescentar para nós, que não damos o devido valor a eles. Acredito que esse curso vai me enriquecer, já que vou ter um contato maior com a cultura e história desses povos”, expõe.

 

Luciene Pereira mora em Belo Horizonte e também se inscreveu no polo de Conselheiro Lafaiete. Ela argumenta que precisamos conhecer melhor as culturas dos povos indígenas. “Espero que o curso traga bagagem para que possamos compreender quem são os povos indígenas, quais as influências deles na nossa cultura e o que nós podemos fazer para auxiliá-los, além de incutir isso nas cabeças das nossas crianças. Eles sabem da história dos negros. E os indígenas?”, questiona.

 

Andresa de Lima, que dá aula na rede estadual em Lavras, se inscreveu no polo de Barroso. A exemplo de suas colegas de curso, ela também não vê a hora de levar a temática indígena para dentro das salas de aula. “Trabalho com questões étnico-raciais e estamos discutindo a questão do negro no Brasil. Precisamos incluir a discussão das questões indígenas”, afirma.